Nesta época em que vivemos, os
indivíduos têm muito mais oportunidades para configurar as suas vidas do que no
passado. Antigamente a tradição e os hábitos exerciam uma influência determinante
sobre a vida das pessoas. Fatores como a classe social, o género, a etnicidade
e mesmo a religião podiam fechar ou abrir determinadas portas. Nascer-se filho
mais velho de um alfaiate, por exemplo, provavelmente quereria dizer que iria
aprender a profissão do pai e ser também alfaiate para o resto da vida. De
acordo com a tradição, o espaço natural da mulher era o lar: a sua vida e
identidade eram em grande medida, definidos pelo esposo ou pelo pai. No
passado, as identidades pessoais dos indivíduos formavam-se no seio da
comunidade em que nasciam.
A ética, os valores e os estilos de
vida dominantes em determinada comunidade forneciam as regras relativamente
fixas que guiavam as pessoas na sua vida.
Sob a globalização, estamos contudo
perante a emergência de um novo individualismo, no qual as pessoas têm de
constituir-se a si próprias de modo ativo e construir as suas identidades. À
medida que as comunidades locais interagem com uma nova ordem mundial, o peso
da tradição e os valores estabelecidos enfraquece.
A globalização está a obrigar as
pessoas a viver de uma forma mais aberta e reflexiva. Isto significa que
estamos constantemente a responder ao contexto de mudança à nossa volta e a ajustar-nos
a ele; enquanto indivíduos, evoluímos com os contextos mais abrangentes onde
estamos inseridos. Mesmo as mais pequenas escolhas que fazemos no dia a dia, o
que vestir, como ocupar os tempos livres, como cuidar da saúde e do físico, são
parte integrante de processo contínuo de criação e recriação das nossas
identidades pessoais.
PADRÕES DE TRABALHO
O trabalho ocupa um lugar central na
vida de muitas pessoas. A globalização provocou transformações profundas no
mundo laboral. Muitas indústrias tradicionais tornaram-se obsoletas graças aos
novos avanços tecnológicos ou estão a perder a sua quota de mercados em relação
a empresas estrangeiras, cujos custos em mão de obra são inferiores aos preços
praticados nos países industrializados; muitos trabalhadores industriais
ficaram sem emprego e sem o tipo de aptidões necessárias para fazer parte da
nova economia baseada na informação. Se antigamente a vida laboral das pessoas
era dominada pela relação de trabalho com um empregador durante várias décadas
– o chamado contexto de «trabalho para a vida inteira»; hoje em dia há um
número muito maior de indivíduos que criam o seu próprio percurso em termos de
carreira profissional. Isto implica mudar de emprego muitas vezes ao longo de
uma carreira e obter novos conhecimentos e aptidões em formação. Os padrões
tradicionais de trabalho a tempo inteiro estão a desfazer-se perante esquemas
mais flexíveis: o trabalho a partir de casa com o recurso a tecnologias de
informação, múltiplos empregos, projetos de consultoria de curta duração e
«horários de flexibilidade».
As mulheres entraram no mundo do trabalho em grande número, fato que afetou profundamente as vidas das pessoas de ambos os sexos. O aumento de oportunidades profissionais e académicas levou a que a muitas mulheres adiassem a opção de casar e de ter filhos até que começassem a trabalhar. Estas mudanças significaram também que muitas mulheres trabalhadoras voltam para os seus empregos pouco tempo depois de darem à luz, em vez de permanecerem em casa com os bebés, como acontecia antigamente. Estas alterações exigiram importantes ajustes no seio das famílias, na natureza da divisão do trabalho doméstico, no papel dos homens perante a educação das crianças, levando igualmente à emergência de políticas laborais mais «familiares», de modo a responder às necessidades dos «casais com duplo salário».
Sem comentários:
Enviar um comentário